sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Primeira Brassagem, descobrinado o processo e os primeiros erros.



     Chegando a minha primeira brassagem eu mal podia esperar para colocar a mão na massa e fazer minha primeira cerveja. Mas nem toda a leitura do mundo me preparou para o que estava por vir.
     Alguns posts como o do Blog do Boden, me deram uma base legal para começar a trabalhar, mas cada Brassagem é uma aventura. E aqui vão alguns dos erros que eu cometi em minhas primeiras brassagens que fizeram a total diferença no resultado das cervejas seguintes.

Em primeiro lugar um perfil do meu equipamento: Se trata de uma panela do tipo "espagueteira", que funciona com o sistema de BIAB. O equipamento possui uma  capacidade total de 7,5L, mas eu só consigo levar cerca de 6,5L para a fervura. O que me impede de ter um resultado final "prático" maior do que 5L de cerveja indo para o fermentador. Existe uma vasta discussão sobre os prós e contras deste equipamento e chegando em minha 7ª Brassagem consigo elencar alguns deles na minha experiencia.

Nota: BIAB é um método de brassagem com os maltes envoltos em uma sacola de voil ou outro tecido fino, isso auxilia na retirada de grão, que permite usar apenas uma panela na brassagem, tornado-a mais simples. Isso permite também usar grãos moídos de forma mais fina (quase pó) para melhorar a eficiência de extração dos açúcares do equipamento. Também é muito mais simples para a limpeza do equip.

        Prós:

  • Custo acessível: Com um investimento inicial de 400 reais você já começa a colocar em prática seu sonho de fazer cerveja. E a partir dai pode investir mais na melhora dele, ou não. 
  • Praticidade: equipamento pequeno, fácil de lavar, fácil de guardar, a sujeira que ele faz é controlada e você tem toda a experiencia cervejeira que procurava. Vai poder aprender do começo, ir evoluindo, melhorando seu processo e seu equipamento. Além de que alterações de temperatura são bem mais rápidas do que em um equipamento maior.(no entanto isso pode ser um problema também)
  • Diversão garantida: você vai poder aprender que apesar de todo o trabalho o mundo da cerveja é repleto de mistério, ciência e cultura. Vai ter sua própria cerveja em questão de algum tempo, vai poder explorar novas receitas e estilos sem a responsabilidade de uma grande estrutura nas suas costas e conta bancária. E as cervejas que vão sair deste (desde que feito com dedicação e conhecimento) vão sair muito boas e vão te agradar.
       Os piores contras aparecem quando você passa do ponto de aprendizado e atinge o limite físico do aparelho e de suas receitas. Chega um ponto em que você vai querer ir a diante ...


  • Limite físico: não é possível fazer mais de 5L sem uns truques que acabam por diminuir a qualidade do seu produtor. Existe um claro limite no tamanho do cesto de grãos que não permite que vc use mais de 2 kg de malte, impossibilitando de executar receitas mais complexas. 
  • Equipamento reduzido = problemas maiores: devido ao pequeno porte do equipamento, erros na receita e em quantidade de insumos assumem proporções maiores, assim como erros no processo assumem proporções maiores, por isso requer cuidado extra no controle de rampas de brassagem. 
  •  Recirculação: eu tive uma série de problemas com a recirculação usando uma bombinha de aquário, tentei de diversas maneiras soluciona-los, mas no final preferi abandonar o método e fazer uma "lavagem" dos grãos manual, suspendendo o cesto de grão antes da fervura. (não chega a ser um contra do equipamento, mas com certeza a opção não me agradou. 
  • Dificuldade na medição e reprodução de receitas: devido as alterações de variáveis e como eles afetam sua cerveja, em uma panela assim será praticamente impossível você repetir uma receita a exatidão.Isso é ruim, mas confere um tom de personalidade a cada cerveja criada. Aquela cerveja que fez tanto sucesso e acabou rápido, pode não ficar tão boa na próxima ou até mesmo melhor com o mesmo processo.
Outros problemas que aparecem vêm decorrido a ter apenas o básico do equipamento, problemas como oxidação no envase, contaminação durante a maturação e outros vêm da economia, é só gastar um poco mais em mangueiras e horas na internet pesquisando que vc pode ter uma cerveja de primeira feita em sua casa com um custo controlado e acessível. 

Meu parecer sobre a discussão é o seguinte: Um equipamento deste é um equipamento de entrada. muito, mas muito bom mesmo e será um equipamento que vai se manter com você durante a vida. Mesmo que você evolua e compre um equipamento de 50L, 100L, 200L... este será uma via de pesquisa e desenvolvimento de novas receitas. Experimentar e inovar é o motor que move cada homebrewer e se perdermos esse ímpeto, nosso hobby deixará de ser prazeroso e educativo e passa a ser tão mecânico como fazer contabilidade...

Equipamento de brassagem em pleno vapor durante a última semana.


  Voltando a minha primeira brassagem e seus problemas, gostaria de comentar que nem tudo são flores quando se faz cerveja. Claro que você vai estar com água na boca pelos cheiros de malte e lúpulos no ar e vai querer abrir aquela cerveja especial que estava na geladeira. Mas esteja avisado, beber demais durante a brassagem gera uma série de problemas que nem os mais experientes escapam se não estiverem sóbrios.
Por isso não coloque tudo a perder, beba moderadamente e deixe uma reservada para o final da brassagem (você vai precisar). 
   Outra boa dica é: traga um companheiro de brassagem. Um amigo ou namorada ou interessado. Dividir as tarefas é muito bom para evitar confusão, te salva de ter um trabalho extremamente cansativo e ainda rende muitas risadas. (cuide para que seu companheiro não beba demasiadamente também, se não você troca um problema por outro). 
   
 O Processo, os Problemas, como solucionar e como afetaram o resultado final:

Moagem: O nível de moagem, depende muito do equipamento que você usa e como você o usa. Por usar o método BIAB eu uso uma moagem mais fina. Se eu não tivesse que fazer a recirculação de forma manual com "lavagem dos grãos" eu poderia usar ela mais fina ainda. No entanto o problema vêm do moinho de grãos. Eu uso um moinho comum a disco, apesar de ser a escolha de muitos homebrewers este equipamento te deixa vendido. por fazer uma moagem muito desigual o equipamento não oferece nenhuma garantia de que sua moagem vai sair certa e demanda um tempo absurdo e muita dedicação. 
*A troca por um moinho de rolos resolve isso, melhorando sua vida e o seu relacionamento com a tarefa de fazer cerveja. 

Pré-Limpeza: O grande truque aqui é usar um detergente neutro, uma *esponja anti risco*(para não danificar seu equipamento) e muita atenção aos detalhes. Lave, enxague e seque tudo que for usar e já reserve de maneira estratégica e organizada. Sujeiras e pontos de contaminação podem prejudicar sua cerveja criando offlavors (gostos indesejados) ou até contaminação total da cerveja final. 
*Um borrifador com álcool 70% é muito útil para que exista a limpeza em todos as etapas do processo. 

A Brassagem: Por ser a etapa mais complicada do processo, esteja preparado com uma rotina do mesmo. seja em um papel ou em uma lousa. isso te ajuda a não pular partes do processo ou esquecer de algo.
Aqui temos uma série de problemas que podem acontecer. O mal controle da temperatura é um deles. Errar a temperatura de sacarificação dos açucares pode resultar na perda do poder de transformação deles, tornando a sua cerveja em um bebida sem álcool. Para saber mais sobre as rampas meu amigo Iago tem um post muito útil para isso em seu blog.
*Saiba como seu termômetro funciona (tenha sempre um termômetro reserva de lado para conferir a medição) e teste tudo com água quente alguns dias antes de brassar para ter certeza que você se familiarizou com o processo. Errar com água é de boa, errar com 1,5kg de malte especial já moído dentro da panela é bem ruim. (em equipamentos maiores as perdas são maiores) 
**quando usando uma panela de inox, procure ajustar seu termômetro em 1 ou 2 ºc a menos do que o recomendado na receita. sempre ocorrem erros de medição e surtos como bolhas de calor subindo. assim é melhor manter uma margem de segurança. 
*** durante a recirculação mantenha o equipamento de recirculação e "lavagem" já limpo a a postos, não espere chegar no final para ter tudo a mão. 


Eu e minha companheira de Brassagens e outras aventuras. 

A Fervura: Durante a fervura, lembre-se de faze-la em local arejado e com a panela destampada (eu errei feio nisso =P) ... Por ser uma etapa que mais vai calor para a panela e para o ambiante esta é uma recomendação valiosa. se for fazer em casa lembre-se de abrir janelas e ventiladores, de outra forma sua casa irá cheirar a brassagem por dias. Por contar com água fervente, não existem preocupação muito sérias com contaminação mas isso não atenua a aparição de off flavors. Por isso siga a risca a rotina recomendada pela sua receita e tome cuidado para não errar nas adições de lúpulos e insumos. Importante : a fervura será favorecida se ocorrer de maneira vigorosa. Ou seja, quando iniciar fervura, não diminua a intensidade do fogo. Deixe ferver mesmo! Isso aumentará um pouco a perda por evaporação, mas isso faz com que você se livre de componentes indesejáveis a cerveja como os DMS's e outros que podem causar off-flavors ao produto final. *prepare alarmes para as adições de lúpulos e sejam felizes para tomar uma cervejas.
** deixe pronto seu equipamento de resfriamento do mostro esta parte será essencial para finalizar com chave de ouro sua brassagem.

O resfriamento: Não seja apressado, mas seja atento. O resfriamento também pode gerar problemas para sua cerveja final por isso não pode ser negligenciado. Mas como tudo neste pequeno equipamento está a mercê de condições adversas, podendo o resultado final sair do seu controle. Os prejuizos neste ponto podem ser péssimo, uma adição de fermento em uma temperatura alta, mataria todas aquelas belezinhas (fermento) que você escolhei e comprou com tanto carinho, ou uma contaminação no fermentador pode levar todo o trabalho que tivemos até aqui para o lixo.
O tempo aqui é um dos fatores determinantes, um resfriamento muito rápido do mostro pode levar a um efeito de Cold Break na cerveja final (este efeito deixa sua cerveja mais turva a temperaturas baixas) eu não me importo muito com isso, mas se você quer sua cerveja mais translucida e límpida possível, espere alguns minutos para o resfriamento. Em outra mão o resfriamento demorado dá brecha para contaminações, erros e off flavors se o mostro não resfriar de maneira correta.
*Invista nesta parte do processo, você não vai se arrepender. procure fontes e formas de resfriar seu mostro de maneira segura e correta.
**limpeza é essencial**

Pós limpeza: Limpe seu equipamento com todo o cuidado para não deixar nenhum local de sujeira, isso conserva melhor seu equipamento aumentando a vida útil dele. Além de facilitar a pré-lavagem das próximas brassagens


Aqui 3 cervejas, insumos (futura cerveja), fermentação (quase cerveja) e a cerveja já pronta. 

Por enquanto deixo vocês por aqui. Pulei propositalmente uma parte fundamental do processo. Inoculação e adição do fermento. Esta parte tratarei em uma postagem a parte para ter certeza que cobri o que eu gostaria do assunto. Espero que tenham gostado e acompanhem o desenvolvimento deste programa de cervejaria. Obrigado.


domingo, 23 de junho de 2013

Como nasceu o Nome e o Logo ??

Começada as operações de cervejeiro, e já definido o propósito de fazer cerveja, sentei para definir qual seria o nome, logo e estilo que seriam colocados a frente das minhas produções. 

Algumas ideias apareceram, ligar a cerveja que eu faço e gosto, para mim, deveria estar ligado a mais coisas que eu amo. Em outras paixões minhas começaram a procura de um simbolo. Desde cedo me pareceu óbvio que eu não conseguiria desassociar as cervas do rock n roll que sempre foi inspiração para meu modo de vida desde minha adolescência. 


Hell Yeah !

Pensei em demasiados logos, mas não cheguei em nenhum consenso, até que comecei a desenha-los ao invés de ficar teorizando. Logo cheguei em um design que me agradou muito. Inspirado na cervejaria americana Anderson Valley (uma das cervejas que me inspirou a começar minhas próprias cervejas), comecei a desenhar conceitos de Beers ... e você me pergunta, "O que raios são Beers ?" ... O Beer é um animal mítico por tanto existem inúmeras histórias de como e quando ele foi encontrado. Algumas fontes citam o parecimento de Beers em diversos lugares do mundo, mas uma famosa parição (Estado de Nevada década de 50) foi que colocou o animal de volta a mídia mundial, pelo pouco que se sabe ele possui características de Bear (Urso em inglês) com outra espécie o Deer (ou Cervo em inglês). Outras fontes citam Beers como a manifestação física de certos Deuses menores da mitologia grega e nas escrituras nórdicas um Beer gigante seria a montaria preferida de Odin quando ia a guerra e na mitologia suméria a deusa Ninkasi usava a saliva de um Beer mágico para curar os feridos. Acredite em mim, isso é algo que o governo americano não quer que você saiba, então encontramos muito poucas fontes na internet pois a maioria foi destruída... 

Anderson valley, se mantem como ponto de resistência sobre a verdade com relação so Beers

Logo começaram a sair os primeiros desenhos de Beers em meus cadernos e a partir destes eu acabei refinando o design e layout. Pegando algumas fontes da internet comecei os desenhos e posso falar que eu evolui bem dos primeiros até o resultado final. No começo vemos um exemplar bem "cru" do animal lendário.


Mesmo assim ele já parecia sair amedrontador

Como meu equipamento de cerveja produz apenas 5L por leva. Eu me dou o direito de inovar em cada criação, criando cervejas exclusivas e incomuns. Por isso o logo não poderia transparecer menos. teria que ser algo mais agressivo. Pelo pouco que se conhece sobre o animal Beer, ele é um animal muito feroz, de comportamento arisco e se destaca dos demais animais pela sua inventividade. Por isso uma representação dele deveria transparecer mais atitude e dominância sobre seu território como o animal real. Logo cheguei a este conceito .... 


rawwgh


Criada a aparência do temido Beer. Passei a ponderar sua apresentação, e uma forma de liga-lo a minha história e meus amigos. Por isso me aproveitei de um antigo apelido de faculdade "Poncho", com uma origem quase tão misteriosa quanto a do Beer. O apelido foi incorporado a merca da cerveja como referencia ao seu Mestre cervejeiro. 



Chegamos então ao nosso logo quase definido. Conforme serão lançadas as cervejas teremos um contorno mais definitivo, mas por enquanto se deliciem com essa preciosidade. =D
Gostaria de agradecer a paciência e ajuda do meu amigo João Francisco que me ajudou muito na elaboração do conceito do logo e a Marina Padoan que me ajudou e acreditou no Beer desde os primeiros traços. ...

Como tudo começou ? O porquê de se fazer cerveja em casa ...

Por onde começar se não pelo começo ?
Meu primeiro contato com cervejas "premium" ou "especiais" se deu cerca de 4 anos atrás, quando realizei que investir um pouco mais em qualidade em detrimento a quantidade. Nem sempre essa escolha era fácil e por um bom tempo cervejas especias eram esporádicas em minha vida. Mas a curiosidade foi sempre falando mais alto e me levando a experimentar novos rótulos e estilos, aos poucos deixando para trás as antigas pilsnens nacionais que por tanto tempo me acompanharam.
Quero deixar claro que não desmereço as cervejas que por tanto tempo me acompanharam e os bons momentos (alguns que eu nem me lembro =P) que me proporcionaram.

Minha evolução de paladar foi se dando de forma gradual e progressiva, mas se intensificou quando comecei a me interessar por novos estilos e pela história de cada cerveja. Com um pouco mais de conhecimento sobre o assunto e a facilidade que novos rótulos começaram a as prateleiras de supermercados a preços mais acessíveis, comecei uma viagem sem volta pelo mundo de cervejarias, rótulos, estilos e histórias.

Conhecer quais cervejas mais me agradavam, despertou um profundo senso de satisfação. Procurei então a entrar em contato com o cenário nacional da cerveja. Logo fui apresentado as cervejas artesanais, ai que a brincadeira ficou interessante. Com isso comecei a pesquisar sobre técnicas e processos de "manufaturar" cerveja em minha própria casa com um equipamento reduzido em um investimento razoável. Mesmo convencido de que esta era uma ótima ideia fui atrás de mais informações e possibilidades de cursos e formas de aprendizado. Assim antes de adquirir meu próprio equipamento eu já avia acompanhado duas brassagens e entrado em contato com a matéria-prima, com equipamentos e pessoas que conheciam o mundo que eu estava entrando. E o principal, eu já sabia o que eu queria "desenvolver uma cerveja que eu tivesse prazer em tomar e dividir com meus amigos".

Neste espírito no final de março de 2013 comecei a comprar meu equipamento, entre ele estavam, uma pequena panela "espagueteira" de 7,5L, algumas peças de conexões, uma bombinha de aquário e algumas rolhas. literalmente o equipamento mais básico possível para se fazer cerveja (de verdade) que uma pessoa pode precisar.
Fiz mais um investimento em pequenos utensílios básicos como iodo, pipeta, um limpador de garrafas , mangueiras e outros. Testei tudo com água e estava pronto para ir... calma ainda não, este é a parte, digamos, "científica" de se fazer cerveja no entanto ainda faltava a outra parte.

Dizem que cerveja artesanal é parte ciência e parte arte. Descobri o quanto isso é verdade.
A elaboração de uma recita não é tarefa das mais fáceis para um inciante no assunto. Mais um tanto de estudo seria necessário, e lá fui eu me enfiar em mais literatura sobre o assunto...
Com o equipamento em mãos e uma vontade de fazer cerveja, resolvi aprender mais sobre a parte científica e operacional da forma mais simples e segura. Comprei um kit simples para 20L de Blond Ale (single malt, single hop) muito usado por iniciantes e comecei a me aventurar no processo cervejeiro...



Nos próximos posts,  conto mais como vão acontecendo as Brassagens, conduzirei degustações e avaliações e notificarei a todos de como conseguir seu exemplar da minha Beer ...